quinta-feira, 4 de outubro de 2012

# carta 203


    Querido Bernardo,
  Acho que as coisas estão começando a melhorar. Sorri ontem, com vontade. Não machucou minhas bochechas, como acontecia toda vez que era forçado. Não me machucou o coração, nem me feriu as mãos como quando eu cravava as unhas na pele. Foi tão singelo, tão silencioso e rápido. Foi bom.
  Sinto que a cura está começando. Tenho chorado, não pela dor, mas pela necessidade. Acreditei nisso durante tempo que é difícil agora tentar me desvencilhar de meus próprios pensamentos e desejos. Prefiro manter-me assim, sã (em alguns termos). Gosto de imaginar-me rica às vezes, cercada por gatos em uma mansão gigantesca, mas essa imagem não se encaixa muito bem no que é minha realidade. Eu sou pequena demais, quebrada demais para conseguir qualquer coisa sozinha além de uma horta no quintal e consertar o buraco na janela. Matei os tomates, mas os morangos continuam a crescer. Faz frio e deveria tê-los protegido da geada, porém quem iria imaginar que plantas pudessem ser tão frágeis como nós? Custa muito mais para se consertar do que para se quebrar. No entanto, sendo sincera, não irei replantar os tomates. Nunca gostei de comê-los de qualquer maneira.
  Já passa das três horas da tarde. O sol está alto e quente, é bom. É bom para caminhar, é bom para apenas sentar na grama, com um livro em mãos. Ah! Falando em livros, reuni todos aqueles que não leio mais e os doarei a um sebo. Os que possuem dedicatórias me partem o coração, mas me deixam alegre ao mesmo tempo. Pode imaginar que aventura seria receber um livro com a dedicatória que nunca saberemos quem é?! Quem sabe eu compre algum livro por lá também.
    P.S. Não levarei guarda-chuva. Se por algum acaso chover, ficarei doente. Não é tão ruim, não é? Chá com mel é uma delícia.
    P.P.S. Eu te amo.
  Sua,
Hannah Schröer