domingo, 17 de fevereiro de 2013

Precisa de ritmo?

Se abrisse os olhos, veria a mulher por quem estava aos poucos me apaixonando.
Eu não sabia o que era pior. Memórias de um passado feliz ou a ilusão de uma felicidade temporária.

- Mentiroso.

Meus braços ainda estavam envoltos na cintura de Lume, e eu tinha meu queixo encostado em sua cabeça, seus cabelos fazendo cócegas em meu pescoço. Mantive minha posição e preferi não olhá-la nos olhos.

- Por que diz isso? – perguntei.

Ela pousou a cabeça em meu peito enquanto dançávamos, suas unhas roçando contra minha nuca.

- Nunca me disse que sabia dançar – respondeu ela.
- Não acho que isso me faz um mentiroso.

Lume pareceu pensar sobre o que eu disse por alguns instantes.

- Te faz o que?
- Um omissor, o que é ainda pior.

Ela suspirou e suas mãos passaram de minha nuca até meu peito, e ela forçou com as palmas para que nos afastássemos, olhando-me nos olhos. Parecia decepcionada.

- Queria que visse a si mesmo como eu o vejo. Adoravelmente bom, não tão quebrado, não tão triste – ela falou, usando um tom de voz de partir o coração. Se queria que eu não fosse tão triste, não deveria olhar-me com aqueles olhos azuis cor-do-céu por debaixo dos cílios, derretendo minha indiferença perante ela.

- Prefere me chamar de mentiroso apenas porque não é tão ruim? – perguntei e ela riu docemente.
- Prefiro dizer que estou surpresa que saiba dançar. E feliz.

Como poderia estar feliz? A própria frase parecia tão cheia de tristeza.

- Feliz?
- Sim. Me sinto feliz. Você se sente assim também? – Lume apertou seus dedos contra meu peito, como se quisesse arrancar a resposta de dentro de mim.

Fechei os olhos por alguns momentos e a abracei. E então, sussurrei em seu ouvido:

- Sim. E triste porque a música está acabando.

Ela riu e rodopiou, segurando minha mão esquerda acima de sua cabeça. Abraçou-me novamente e instigou-me a recomeçar a dançar. O som esvaiu-se poucos segundos após.

- Podemos dançar até o amanhecer, se quiser.

Sorri um pouco, apenas um lado de minha boca movimentando-se.

- A que ritmo? – perguntei.
- Precisa de ritmo?

Rimos ambos. E antes que pudesse mudar de ideia, antes que pudesse sequer pensar sobre o assunto, aproximei-me de Lume um tanto quanto bruscamente, arrancando dela um beijo.

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